Psicofarmacologia

Ozempic, Wegovy e Mounjaro: funcionamento, indicações e impactos

Oct 1, 2025
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os últimos anos, medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro passaram a ocupar um espaço central nas discussões sobre obesidade, controle do diabetes tipo 2 e comportamento alimentar. Inicialmente desenvolvidos para o tratamento metabólico, esses fármacos ganharam notoriedade pelos efeitos significativos na redução do apetite e do peso corporal, despertando também interesse em áreas como a psicologia e a psiquiatria.

Este artigo tem como objetivo explicar como esses medicamentos funcionam, para quem são indicados, quais são seus impactos no organismo e no comportamento alimentar, além de discutir limites, riscos e a importância do acompanhamento profissional.

O que são Ozempic, Wegovy e Mounjaro?

O Ozempic e o Wegovy têm como princípio ativo a semaglutida, um análogo do hormônio GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1). Já o Mounjaro contém tirzepatida, uma substância que atua de forma dupla, estimulando tanto os receptores de GLP-1 quanto os de GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose).

Esses hormônios são naturalmente produzidos pelo intestino e desempenham um papel essencial na regulação da glicose, da saciedade e da ingestão alimentar. Ao mimetizar essa ação hormonal, os medicamentos passam a interferir diretamente nos mecanismos fisiológicos que controlam fome, saciedade e metabolismo.

Como esses medicamentos atuam no organismo?

A ação desses fármacos é multifatorial e envolve diferentes sistemas do corpo. Entre os principais mecanismos, destacam-se:

  • Retardo do esvaziamento gástrico, fazendo com que o alimento permaneça mais tempo no estômago, prolongando a sensação de saciedade;
  • Redução do apetite, por meio da atuação em áreas cerebrais relacionadas à fome e ao sistema de recompensa;
  • Melhora do controle glicêmico, estimulando a liberação de insulina de forma dependente da glicose e reduzindo a secreção de glucagon;
  • Diminuição da ingestão calórica espontânea, sem necessidade de restrição alimentar extrema.

Esses efeitos explicam por que esses medicamentos são eficazes tanto no tratamento do diabetes tipo 2 quanto no manejo da obesidade.

Indicações clínicas atuais

Do ponto de vista médico, esses medicamentos são indicados principalmente para:

  • Pessoas com diabetes tipo 2, especialmente quando há dificuldade de controle glicêmico com outras abordagens;
  • Indivíduos com obesidade ou sobrepeso associado a comorbidades, como hipertensão, dislipidemia ou resistência à insulina.

O uso com finalidade estética ou sem acompanhamento profissional não é recomendado, uma vez que envolve riscos e pode mascarar questões mais profundas relacionadas ao comportamento alimentar.

Efeitos no comportamento alimentar e possíveis impactos psicológicos

Um dos aspectos que mais chama atenção nesses medicamentos é sua influência direta no comportamento alimentar. Muitos pacientes relatam:

  • Redução significativa da fome;
  • Menor pensamento recorrente sobre comida;
  • Diminuição de episódios de compulsão alimentar.

Esses efeitos levantaram hipóteses sobre o possível uso dessas medicações em casos de Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA). No entanto, é fundamental destacar que a compulsão alimentar não é apenas uma questão fisiológica. Ela envolve fatores emocionais, cognitivos e relacionais complexos.

Embora os medicamentos possam ajudar a reduzir impulsos alimentares, eles não tratam as causas psicológicas subjacentes do transtorno. Por isso, seu uso isolado não substitui intervenções psicoterapêuticas.

Riscos, efeitos colaterais e limitações

Apesar dos benefícios, o uso desses medicamentos pode estar associado a efeitos adversos, especialmente no início do tratamento ou quando não há ajuste adequado de dose. Entre os mais comuns estão:

  • Náuseas e vômitos;
  • Constipação ou diarreia;
  • Dor abdominal e desconforto gastrointestinal.

Em casos menos frequentes, podem ocorrer complicações como hipoglicemia (principalmente quando associados a outros antidiabéticos), alterações na vesícula biliar, pancreatite e sobrecarga renal.

Esses riscos reforçam a necessidade de avaliação individualizada, prescrição médica criteriosa e acompanhamento contínuo.

A importância do acompanhamento multiprofissional

O tratamento da obesidade, do diabetes e dos transtornos alimentares exige uma abordagem integrada. O uso de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro deve fazer parte de um plano terapêutico que inclua:

  • Acompanhamento médico, para avaliação clínica, ajuste de doses e monitoramento de efeitos adversos;
  • Orientação nutricional, visando a construção de uma relação mais saudável com a alimentação;
  • Acompanhamento psicológico, especialmente quando há histórico de compulsão alimentar, sofrimento emocional ou relação disfuncional com a comida.

Sem esse suporte, há maior risco de efeitos rebote, abandono do tratamento ou manutenção de padrões alimentares prejudiciais.

Considerações finais

Ozempic, Wegovy e Mounjaro representam avanços importantes no tratamento de condições metabólicas e no manejo do peso corporal. Seus efeitos vão além da simples perda de peso, influenciando também aspectos do comportamento alimentar e da regulação do apetite.

No entanto, é essencial compreender que nenhum medicamento, isoladamente, resolve questões complexas relacionadas à alimentação e ao corpo. O cuidado deve ser sempre individualizado, ético e baseado em uma visão ampla da saúde física e mental.

A integração entre medicina, nutrição e psicologia continua sendo o caminho mais seguro e eficaz para resultados sustentáveis e para a promoção de saúde a longo prazo.

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